Os destinos possíveis do protagonista e as visões de mundo do autor

A construção de um protagonista em uma narrativa vai além do simples desenvolvimento de um personagem. Trata-se de um reflexo de questões universais, de dilemas humanos e, muitas vezes, de visões de mundo do próprio autor.

A jornada do protagonista não se restringe à superação de obstáculos, mas também ao seu processo de transformação. O seu destino é uma projeção de possíveis realidades que o autor deseja explorar, seja como forma de questionamento ou para ilustrar sua visão de mundo.

Os Destinos do Protagonista

Ao escolher o destino de um protagonista, a primeira questão que se coloca é a própria multiplicidade de opções que se apresentam a ele. O autor coloca seu personagem diante de caminhos diferentes, que podem levar a diversos finais, conforme as escolhas que o protagonista fizer ao longo da narrativa. Esses destinos possíveis são influenciados pela visão de mundo do autor.

A maneira como o autor constrói um universo em torno do protagonista é essencial para determinar quais opções de destino estarão à disposição do personagem. Em muitas narrativas, o autor cria uma tensão entre o que é possível e o que é desejável para o protagonista, como se ele estivesse constantemente se perguntando até que ponto suas escolhas podem realmente mudar seu destino ou se ele está fadado a seguir um caminho pré-determinado. Esse dilema se torna mais evidente quando o protagonista se encontra em um cenário de conflito existencial, onde as alternativas parecem igualmente atraentes ou igualmente sombrias.

A Visão Fatalista e os Limites do Destino

O autor pode escolher explorar diferentes possibilidades de destinos através de um enredo ramificado, onde o mesmo personagem segue diversos caminhos, com consequências distintas. Nessa abordagem, o autor não se limita a uma visão linear e única, mas sim cria um conjunto de escolhas que desafiam o próprio conceito de destino, enfatizando a ideia de que o futuro está sempre em aberto e depende da capacidade do personagem de tomar decisões conscientes.

Em Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo, a narrativa explora todas as possibilidades de destinos para a sua protagonista.

Também é possível adotar uma perspectiva fatalista, onde as opções de destino do protagonista são limitadas por forças externas, como a sociedade, a história ou a própria natureza humana. Neste contexto, o destino do personagem parece ser uma consequência inevitável de sua origem ou circunstâncias. Aqui, a visão de mundo do autor está mais centrada na ideia de que o ser humano é, em grande parte, refém de sua própria situação. Os destinos possíveis, portanto, são restritos, e as escolhas do protagonista, se existem, são apenas ilusões, pois ele está preso a um ciclo maior que não pode controlar.

As Visões de Mundo na Construção dos Destinos

A maneira como o autor apresenta trabalha os destinos possíveis do protagonista reflete suas crenças e interpretações sobre o mundo. Autores otimistas tendem a desenhar destinos em que o protagonista possui uma margem de liberdade e agência, e suas ações podem transformar seu futuro. Já autores que possuem uma visão mais trágica da sociedade ou da condição humana podem limitar as opções do protagonista, ou fazer com que ele enfrente desafios intransponíveis, estabelecendo uma crítica ao sistema em que vive ou à própria natureza humana.

Os destinos podem estar profundamente ligados a questões filosóficas, como o livre-arbítrio. Para muitos autores, a construção de um destino pode ser uma forma de refletir sobre a luta do indivíduo contra as forças que buscam determiná-lo. Assim, a própria trajetória do personagem se torna uma alegoria.

A Sociedade e o Destino do Protagonista

As visões de mundo estão entrelaçadas com temas sociais e políticos nas narrativas. Autores que escrevem em contextos de grande turbulência histórica ou política, por exemplo, podem utilizar o destino dos protagonistas como uma forma de questionar ou criticar as estruturas de poder. Nesse cenário, o protagonista pode estar preso a um destino que é uma consequência direta de um sistema social injusto, refletindo o ponto de vista do autor sobre a imposição de normas e a falta de liberdade individual.

Em Réquiem para um sonho, os personagens estão reféns do seu destino trágico e inevitável.

Por outro lado, quando o autor adota uma visão mais existencialista, o destino do protagonista pode ser visto como um reflexo da luta interna do indivíduo, que busca entender seu propósito e encontrar seu lugar no mundo. O foco, neste caso, está nas escolhas pessoais, na responsabilidade pela própria vida e na luta para se afirmar como ser único e autônomo. Os destinos possíveis, aqui, são mais sobre o autoconhecimento e a busca pela realização pessoal do que sobre questões externas.

A Transformação do Protagonista: Da Ilusão à Realidade

A maneira como os destinos possíveis se desenrolam também pode variar conforme o tom da obra. Um autor mais pessimista pode criar um final trágico e irreversível, onde o protagonista sucumbe à sua própria falha ou às circunstâncias externas. Já um autor mais otimista pode apresentar uma jornada de crescimento e superação, onde o protagonista, por meio de suas escolhas e ações, encontra a realização ou a paz interior.

Independentemente do tom ou da abordagem, o destino do protagonista sempre estará atrelado à visão de mundo do autor. Cada escolha que o personagem faz, cada obstáculo que ele enfrenta e cada decisão que ele toma é uma representação da perspectiva que o autor tem sobre a vida, a sociedade e o ser humano. Assim, as trajetórias do protagonista não são apenas um reflexo de suas ações individuais, mas também uma projeção das ideias e dos valores do autor, que usa a ficção para explorar e comunicar suas próprias conclusões sobre o mundo.

A história de Corra, Lola, Corra é contada três vezes diferentes, mostrando três finais alternativos para o destino da personagem.

A Real Visão de Mundo do Autor

Recapitulando: os destinos possíveis de um protagonista são muito mais do que simples alternativas dentro de uma história. Eles são construções que fazem parte de um diálogo entre o autor e o espectador, um espaço onde visões de mundo, filosofias e críticas sociais podem ser abordadas de forma profunda e significativa. O destino do protagonista, portanto, é uma chave para entender não apenas a narrativa, mas também a visão de mundo que o autor quer comunicar.

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