Toda boa história geralmente tem algo em jogo. Sem riscos, não há tensão. Sem tensão, não há envolvimento. Essa verdade simples é frequentemente esquecida — tanto por autores iniciantes quanto por criadores experientes. É tentador proteger seus personagens, evitar conflitos intensos ou amenizar consequências. Mas isso pode ser fatal para o impacto da narrativa.
Podemos entender os stakes como aquilo que os personagens têm a perder ou a ganhar. Pode ser a vida, o amor, a honra, a liberdade, a confiança de alguém. Quanto mais significativos e claros forem esses stakes, mais poderosa se torna a história, porque o público entende o que está em jogo e por que deve se importar.
O Que São Os Stakes?
Stakes não são apenas ameaças ou perigos físicos. Eles envolvem tudo aquilo que importa para os personagens e para o público. Por exemplo:
- Em um romance, o stake pode ser o risco de perder alguém amado.
- Em um drama familiar, pode ser a chance de reconciliação entre pai e filha.
- Em uma aventura, pode ser salvar o mundo… ou salvar a si mesmo.
Eles podem ser externos – uma bomba prestes a explodir – ou internos – o medo de fracassar, a vergonha de um segredo. O essencial é que os stakes sejam relevantes, claros e emocionalmente significativos.

Sem Riscos, Não Há Razão Para continuar a história
Quando o público não entende ou não sente os stakes, a história perde força. Imagine uma trama policial em que o detetive pode ou não resolver o caso… mas, se não resolver, tudo continua igual. Onde está a urgência? Por que seguir acompanhando a história?
Stakes criam urgência narrativa. São eles que colocam o público na ponta da cadeira. Cada escolha, cada cena, cada fala deve carregar consigo algum risco, alguma possibilidade de perda ou ganho. É isso que faz com que pessoas maratonem temporadas inteiras de uma série em apenas uma sentada.
Exemplos Que Mostram a Diferença
Compare dois cenários:
Cenário 1: Dois personagens discutem sobre o passado. A conversa é intensa, mas não há nenhuma consequência visível. Eles falam, brigam… e tudo segue como antes.
Cenário 2: Dois personagens discutem, mas sabemos que, se não se entenderem, um deles vai abandonar a casa e cortar laços para sempre. O diálogo tem peso, porque o que está em jogo é claro.
A mesma cena pode ter stakes diferentes. E é isso que define se ela vai emocionar, gerar tensão ou apenas preencher espaço.

Como Estabelecer Bons Stakes
Bons stakes surgem de três pilares:
Personagens com algo a perder.
Se o protagonista não tem desejos reais, não há stakes. É preciso entender o que ele quer e o que teme perder.
Consequências claras.
O que acontece se tudo der errado? O que acontece se tudo der certo? A narrativa precisa deixar isso evidente.
Conexão emocional.
O público precisa se importar. E isso só acontece quando os stakes ressoam em níveis humanos: amor, perda, orgulho, pertencimento, sobrevivência.
Stakes Crescentes: A Escalada da Tensão
Uma boa história não apenas apresenta stakes, ela os intensifica. Ao longo da narrativa, o que está em jogo deve crescer. Um problema pequeno vira uma crise pessoal. Um obstáculo vira uma tragédia iminente. Isso mantém o público investido.
Filmes como Mad Max: Estrada da Fúria ou Parasita são exemplos de histórias em que os stakes se ampliam a cada ato. O espectador sente que tudo pode desmoronar, e isso cria uma experiência visceral.

E Quando Os Stakes São Subjetivos?
Nem toda história precisa de risco de morte ou destruição. Em tramas mais íntimas, os stakes podem ser sutis — mas nem por isso menos poderosos. Um jovem tentando se assumir para os pais. Uma mulher que quer abandonar um casamento tóxico. Um garoto que precisa provar a si mesmo que é capaz.
São riscos emocionais. Dolorosos. Profundos. E, quando bem trabalhados, valem mais que mil explosões.
Arrisque Para Fazer Sentido
Se você sente que sua história está “morna”, sem impacto, sem tensão, olhe para os stakes. O que seu personagem tem a perder? Por que ele age? O que acontece se ele falhar? E, acima de tudo: o leitor consegue sentir isso?
Histórias memoráveis não vêm da segurança. Vêm do risco. Vêm de personagens que caminham na corda bamba, e fazem o público prender a respiração a cada passo.